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Iniciação aos Escritores Malditos*
por Rodrigo de Andrade (Garras)**

Você não ouviu falar deles na escola. Também não estão na lista dos mais vendidos. Os escritores malditos são assim denominados por terem sido renegados pelo grande público e pela crítica. Suas obras são indigestas demais para os espíritos fracos e mentes pequenas. Pouco importa, não foi para a maioria que eles escreveram.

Intelectuais frustrados, mendigos, bêbados, loucos, boêmios, revolucionários, delinqüentes, andarilhos, drogados... Esses escritores marginais não se enquadravam no mundo, e optaram por um caminho que não era pré-moldado. Preferiram quebrar as regras do jogo, e sua arte reflete tal inadequação. Produziram uma ficção forjada na experiência de situações-limite. Muito daquilo que está nas páginas de seus livros foi realmente vivido! São espécies de autobiografias disfarçadas. E daí resulta a força de suas obras.

Dentre os mais célebres, pode-se citar a Geração Beat, personificada principalmente em Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs. Um bando inteiro de malditos que conseguiu sacudir a sociedade norte-americana e provocar uma verdadeira revolução cultural na segunda metade do século XX. Seus reflexos são sentidos até hoje, no cotidiano, mesmo que a maioria não saiba. Carles Bukowski foi outro, talvez o maior dos últimos tempos. No Brasil, temos Paulo Leminski, Jorge Mautner e até o aclamado Dalton Trevisan. Se retrocedermos ainda mais no tempo, surgirão nomes conhecidos: Henry Miller, Ernest Hemingway, J. D. Salinger, John Fante, Jack London, Walt Whitman, Appollinaire, Arthur Rimbaud, Charles Baudelaire...

Com o passar dos anos, alguns escritores malditos conseguiram certo reconhecimento. Eram verdadeiros devoradores de livros (em sua maioria). Mais do que no conteúdo, suas obras muitas vezes inovavam em estilo, estética e composição literária. Por isso, também, era escamoteados pelos que não compreendiam. Ainda, muitos desses escritores preferiam se manter à margem do mercado editorial, publicando e distribuindo suas obras de maneiras alternativas, longe das redes de livrarias tradicionais.

Atualmente no Brasil, se consegue facilmente algumas obras dos principais autores execrados. Até bem pouco tempo, muitos títulos estavam esgotados há anos, ou mesmo não haviam sido editados por aqui. E nem adiantava tentar em bibliotecas, os exemplares já haviam sido roubados pelos fãs. A solução era apelar para os sebos. Agora, graças à essa renovação editorial, a oportunidade para se ler algo diferente (e põem diferente nisso) está aí, para quem tiver coragem e quiser sair da mesmice.


* Matéria publicada na Revista Glow (atualmente extinta, em sua forma impressa), em setembro de 2004

**Rodrigo de Andrade é jornalista, historiador e é o editor do site Os Armênios

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